Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!

 

Imagem: Google - ônibus abandonado
no Atacama

Capicua parece um adjetivo que designa um indivíduo “capicuado”, um caipira eu diria, mas é o tal palíndromo, uma sequência de algarismos que permanece a mesma, se lida de ordem direta ou inversa.

E hoje, nesta terça-feira morna, temos o último palíndromo da década, no caso do formato de data adotado em terras brazucas: dia seguido de mês e ano – 22-02-2022.

Para místicas como eu, um dia místico, uma data memorável! E lógico, merece ao menos uma poesia. Que podia começar com amor a Roma, ou lava esse aval, ou então – Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!

Eu preferi esse exemplo, óbvio, até por que se parece comigo, subir no ônibus errado já me aconteceu dezenas de vezes nessa jornada que é minha vida. Só não foi em Marrocos, foi aqui pelos pampas mesmo 😁, mas isso não importa e é uma estória para outro momento...

 

estou perdida

andando a esmo

que nem sou eu mesmo

nesta estação

me dê a mão

que eu vou junto

pra qualquer lugar

já perdi a razão

 

“me dê a mão vamos fugir pra ver o mar”

mas lembrei que não tenho par

só sou eu nesse mundo infinito

e tá mesmo tudo tão bonito

pra falar de amor

só se for à Roma

mas eu me perdi foi em Marrocos

e tô com óculos quebrado

consertado com super-bonder

preciso fumar um cigarro

pra continuar esses versos

quem sabe no inverso

eles fluam e explodam de mim

numa estrada sem fim

me perdi é verdade

mas me encontro na idade

de se perder por aí

lembro da Ana

que também é um palíndromo

não fosse a Paula

minha amiga amada

distante de mim

que me falava da fase do chapéu lilás

e que me encontro aliás

depois de tantos tempos idos

e o tempo é mesmo cruel

um fel que abre a gente 

para novos portais

e eu adentro nesse de hoje

pras terras do nunca mais

me encontrem estou aqui

perdida nessa data

nesse capicua de fevereiro

num momento derradeiro

de terminar o poema

meu dilema é partir

ou ficar

só sei que vou passear nessa cidade

que de verdade

eu desconheço

e vou levar o meu riso solto

pra qualquer lugar

e é só um poema arteiro

brejeiro e fora do ar

anda faceiro

só pra te dizer

que o verso vai terminar

sem se despedir

me deixem ir

mesmo de ônibus errado

só vou voltar 

quando o sol se pôr de novo

no meio do povo

desse universo virtual...

 

Rose Bitencourt





 

 

 


Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Retrato pra fechar ciclos

Sim, eu queria ser o “Magaiver”