Aos mestres com carinho

Nossa turma do Jardim de Infância,
eu a menina de shorts azul


Remexo nos baús da memória e lembro da minha primeira professora. Era o Jardim de Infância e minha "profe" se chamava Madalena. 


Minha mãe, professora Marina, me ensinou desde muito cedo a respeitar os professores e, eu ainda pequenina, nos meus cinco ou seis anos, fazia mais que isso - idolatrava minha professora como se ela fosse assim uma espécie de santa, ou Maga (que palavra estranha). 


E era assim, éramos assim. Colocávamos nossos professores num altar, num pedestal. Mas ao mesmo tempo podíamos chegar bem pertinho deles, para darmos um abraço, um beijo e entregar uma florzinha quase sempre de caule curtinho, que colhíamos da beirada das ruas, ou às vezes roubávamos de algum Jardim da vizinhança. 


Eu lembro que tinha a Dona Margarida ou Véia Beija flor, uma senhora que eu nem sei se tinha mesmo esse nome, mas lhe era atribuído devido ao seu florido jardim de margaridas, e gérberas multicores. 


A professora sabia que nossas florzinhas vinham de lá, mas recebia com muito amor nosso presente, que era uma forma de dizer, - obrigada por ser nossa professora - nós te amamos! 


Eram outros tempos em que se respeitava e se valorizava o professor, a professora. 


E, por mais que no decorrer das séries, fomos encurtando a forma de chamá -los, que de "profe", virou "prô", o nosso carinho, a nossa admiração pelos nossos educadores só aumentava.


E a gente crescia, e naquele tempo aprendia as lições e as continhas... Repetiamos de ano, se fosse preciso, quando o boletim recebia aquelas assustadoras notas em vermelho.


Eu era uma boa aluna, mesmo assim tive que repetir de ano, rodei como se dizia naquele tempo, por duas vezes - na sétima série do Ensino Fundamental (por que a mãe achou por bem que eu repetisse e aprendesse melhor a matemática), e no primeiro ano do Ensino Médio. Sempre apenas nas exatas.


Fatos esses, que mudaram para sempre o rumo da minha vida. E não sei se por revolta ou indignação ou os dois, eu resolvi não cursar o Magistério no Colégio das freiras, fui fazer o Auxiliar de Enfermagem, para garantir logo uma profissão e ajudar nas despesas da casa. Era o que eu pensava naquele tempo. 


A carreira durou uns quatro ou cinco anos, cheguei a ser concursada e atuava em postos de saúde do Sus. 


Mas a vida deu voltas e eu acabei mesmo fazendo minha graduação em Jornalismo, o que sempre me encheu de orgulho, essa profissão que temos, que nos dá a oportunidade de homenagear as outras profissões com a realização de matérias e reportagens, por exemplo. 


Hoje fico por aqui, com esse meu texto de memórias como forma de homenagem a essa classe de trabalhadoras e trabalhadores, hoje tão menosprezada, financeiramente, desvalorizada pelos governantes e desrespeitada por tantos.


É meio clichê, mas temos que lembrar que sem o professor, a maioria das demais  profissões não existiriam. 


Salve as guerreiras e guerreiros educadores! Salve minha guerreira professora do Jardim de Infância e, em nome dela, todas as demais professoras e professores, desde o Ensino Fundamental ao mundo acadêmico. 


Vocês são os responsáveis pelas minhas escritas, pela minha produção textual de hoje e do resto de minha vida. 


Salve!


Nossa turma do Curso
de Auxiliar de Enfermagem 

Minha formatura em Jornalismo 

Formatura da minha mãe em Pedagogia 




Comentários

  1. Escrito com o carinho de uma pessoa que reconhece o momento grandioso de ter passado por uma escola e recebido, além do conhecimento,
    a luz humana de todo aquele que ensina.

    Eu acredito que todo homem nasce com um invisível par de asas , mas nem sempre sabe da existência do mesmo e nem da sua capacidade de voar. Cabe ao professor falar desse par de asas, sobre a arte de voar e mostrar as delícias e os riscos das grandes alturas. Se o professor faz isso, ele se torna inesquecível.

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  2. Linda homenagem, a minha memória me fez lembrar dos agrados que eu fazia a minha professora Réa Silva Zimmermann ...a flor mais linda era para ela, a bergamota mais bonita também, acho que imitei ela em sala de aula...ah! Como os tempos mudaram.... hoje o professor é tão desvalizado, é triste.

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  3. Ai que texto tão lindo meu amor. Fiquei muito emocionada.
    Você tem o dom de tocar quem a lê. Que grande dom.
    Um grande beijinho meu

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