E ela se enfiou por dentro das entranhas do tempo
Só assim ela viu que tudo era uma questão de tempo
Tempo da ansiedade passar
Da tristeza que acomete seu ser
Tempo da poeira baixar
Das águas lavarem tudo
Tempo de poder comemorar também 🌟
Tempo de saber de seus próprios limites
Tempo de encarar uma nova realidade
Tempo até de parar de surtar
Tempo ao tempo
Só assim ela viu que tudo tem seu próprio tempo
De saber que sim até podemos levar na cara de quem a gente jamais imaginava
Tempo de se decepcionar com pessoas
Tempo de entender o jeito de amar do filho
O jeito de amar da mãe
E até o jeito de amar do pai que precisa mesmo é ser mais amado
Tempo de saber a hora de parar
E de recomeçar do zero
Do princípio mesmo
Apagar os outros recomeços que deram errado
E reescrever um novo começo
Sem saber que jornada está por vir
Tempo de abrir uma nova estrada
Onde possa caminhar sem medo
Nem de ser triste e muito menos de ser feliz
Tempo de entender que ela pode ser feliz senão por inteiro, aos pinguinhos como gotas de soro e butterfly
Tempo de soltar o choro preso
E se der, vomitar, lançar mesmo pra fora, todos os medos, os pânicos, os pavores dos fantasmas que teimam reaparecer
Vomitar sangue de tanto arranhar a garganta
Por que o bolo é imenso demais e não sai pela garganta
Tempo de aprender que daí é preciso cagar pra vida, por algum buraco haverá de sair toda m que se deixou criar
Que seja um bolo fecal
E nele se expulse o ódio, a mágoa, o rancor, os ranços e o intestino preso.
E que desça pela descarga do trono tudo que é fétido e potrificado como foram esses 4 anos que lhe privaram uma boa refeição e foi servido um prato indigesto de osso.
Só assim ela vai saber que o tempo novo é de comida farta e acessível a todo cidadão.
Tempo de pegar nos livros de novo, estudar e ir pra faculdade para todos e todas, branco, negro, amarelo, vão poder conviver pacificamente.
Tempo de sonhar na utopia de que não será preciso cidadão de "bem" armado por que não haverá discórdia ou discriminação por cor de pele, orientação sexual ou simplesmente por que ela é mulher, e se veste ou se despe como ela quiser, por ser dona do seu corpo que merece ser preservado e respeitado. Por que ela é sua irmã, sua mãe te deu vida e te deu leite e só por isso merece ser reverenciada e protegida quase como um ser santo.
Talvez assim ela veja que é tempo de descansar e apreciar, mas não se acomodar. Empoderar-se e traçar rumos novos. Desafiadores até, um novo curso, um idioma, voltar a tocar violão...
Talvez assim ela veja que é tempo de voltar a tocar a vidinha, ver o sol, fazer exercícios, tomar mais água, meditar, ao invés de se consumir em pensamentos tristes, negativos, nocivos...
Talvez assim ela entenda melhor o ciclo da vida. Agora está precisando ser cuidada, mas em breve será ela quem cuida, zela e protege pelos seus pais. Que mais cedo ou mais tarde estarão fazendo a passagem. E é preciso mais que coragem pra ela entender que será um ser único.
E que não deve se desesperar por isso. Deve sim preparar-se e daí já estamos falando em outra fase da vida.
Ainda não chegou e ela precisa saber viver o tempo de hoje. Nem o de ontem, muito menos o de amanhã.
Ela ainda vai querer entender e escrever que tudo é mesmo atemporal
Mas o tempo é agora. É hoje.
Ela precisa entender que deve apenas viver esse tempo.
E agora é tempo de tratar-se dos males da'alma, da depressão que veio forte, da ansiedade a galope.
Tempo de repouso, terapia, tratamento com medicação sim, por que é essa medicação que garante não apenas a qualidade de vida, mas a própria existência.
E agora ela precisa entender que se não é tempo de viver, que seja tempo de existir.
Quem sabe o tempo não faz florescer amanhã?
Rose Bitencourt
Fantástico teu texto, Rose.
ResponderExcluirObrigada, Paulo
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