Cores da terra
O Retratos da Alma de hoje vai contar um pouco da história do estudante, ativista e poeta, Ricardo Marangon Teixeira de Matos. Ele que é do interior do Mato Grosso, de Tangará da Serra e que viveu e estudou até recentemente em um assentamento conquistado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST.
Vocês não têm noção o que é o discernimento desse jovem, o senso crítico junto à criatividade para desenvolver poesia e dar voz às suas criações.
A sua postura assumidamente gay e militante de esquerda, significa sob meu ponto de vista, uma esperança de que um outro mundo é possível, diante do que ele mesmo define, como sistema corrupto e parcialmente deteriorado.
Eu conversei um pouco com ele, fiz algumas perguntas, mas nem foi preciso, dada a desenvoltura e excelente articulação de idéias para falar do contexto em que se insere.
Acompanhe Ricardo Matos, por ele mesmo, por que vale a pena!
“Creio que viver e estudar em uma escola com uma história de luta e resistência tão grande me formulou a pessoa que sou hoje.
Através dos meus professores eu fui compreendendo como a sociedade funciona e o que é luta de classe. Senti a necessidade de tomar partido e usar minha voz pra levar uma critica social.
E nessa escola do assentamento (Escola Ernesto Tche Guevara), que eu estudava, eram realizados todos os anos concursos de poesia. Era um concurso de poesia para escolas do campo. Os temas eram variados, iam desde nomes históricos como Paulo Freire e Zumbi, até temas com paz mundial e meio ambiente.
Foi nesses concursos que eu descobri minha paixão pela poesia.
Ali eu vi que era a melhor forma de construir uma crítica social com cultura e entretenimento.
O fato de eu gostar muito de temas como enfrentamento a LGBTFOBIA (comunidade na qual me encaixo... sou gay) e política, ajudou a me transformar nesse jovem que busca através da sua arte levar voz a sua comunidade, levar uma critica social ao nosso sistema político corrupto e parcialmente deteriorado”.
Ricardo Matos agora está no 3° ano do Ensino Médio e mudou-se para uma escola urbana.
Nesse ambiente ele diz que tenta desmistificar esse estereótipo de que jovens rurais são caipiras e ignorantes.
Além das suas poesias e da atuação política numa corrente de jovens do Partido dos Trabalhadores, que ele acha que é sua melhor forma de se fazer escutar, Ricardo destaca que se utiliza muito da sua nova escola, que funciona em tempo integral.
“A escola permite aos alunos criarem clubes e eu montei um clube de dança, e também ajudo um colega com o clube de diversidade sexual, explicando o que é gênero, sexualidade..., comenta ele acrescentando que, “assim tornamos a escola um local onde os jovens aprendam a respeitar as diferenças”.
Porém, diz que já sentiu algum tipo de preconceito por ser gay. – “O estado de Mato Grosso e consequentemente Tangará, tem um sistema muito arcaico e preconceituoso ainda, e isso se refletiu nas eleições de 2018.
Sobre algum tipo de discriminação por ter vindo de um assentamento, Ricardo observa, que seus colegas tinham uma visão errada sobre movimentos com MST.
“Até por que eles reproduziam o que era passado pelos pais, mais quando eu cheguei na escola eu fui trabalhando isso em debates em sala de aula e, hoje uma grande maioria mudou completamente sua visão através desses diálogos.
Agora nesse período de pandemia ele fala que está até tranquilo para os estudos por que segundo ele, conta com certos privilégios, como acesso a banda larga.
“Mais ainda sim é muito difícil e muitos jovens do campo não possuem esse acesso, o que prejudica muito o aprendizado.
Agora chegou a vez de apreciar a poesia contestadora e engajada de Ricardo Matos, é o que você vai ver e ouvir.
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