Exaustão, ódio, desalento e a inadiável luta

Por Paulo Schultz

(Repost do Portal Zulupa) 

Bloguinho de hoje fez questão de reproduzir esse artigo paulada do professor Paulo Schultz, que já esteve nas nossas páginas do Retratos da Alma.


Madrugada.


Rolando a tela pelo Facebook, encontro um vídeo - uma  gaita  que emana uma canção melancólica, tocada por uma jovem.


Trabalha em um hospital. Está vestida com roupa de trabalho, provavelmente em horário de descanso. E nesse tempo, sentada sozinha em um quarto, aparentando cansaço, toca gaita ponto baixinho e reflexivamente. 


Notas suaves, melodia triste.


Nas notícias do dia, o preço impeditivo dos alimentos básicos, como arroz e feijão, dificultando a vida de milhões de brasileiros. Lembra a carestia, a fome - condição crônica do Brasil das décadas de 80 e 90.


As mortes pela pandemia vão gradativamente se "naturalizando" na cabeça da população, e ultrapassam 126 mil brasileiros até aqui.


Bolsonaro e seu governo propõem uma reforma administrativa que arrebenta com o serviço público.

 

Os incêndios criminosos na Amazônia aumentam, com a cumplicidade omissa do governo federal.


O Brasil de 2020 é um país exausto.


É consequência de uma crise social, política e econômica que vem se agudizando desde o início de 2015. 


E que agregou um elemento destruidor - o ódio.


Há um contingente de milhões de brasileiros que empobreceu, se enbruteceu, se enraiveceu, se entristeceu.


Mesmo  quem hoje se acha empoderado, porque seu  "Messias" está no poder central do país, não demonstra alegria - demonstra raiva e ódio - fundamentalista e ignorante, por sinal.


O país, entre outras coisas, tem parte considerável de seu povo triste, desesperançoso.


Lembra que há cerca de 10 anos éramos um dos países com população mais feliz, orgulhosa e confiante no seu futuro ?


Revistas de circulação nacional estampavam isso em suas capas.


O Brasil de agora tem 40 milhões vivendo de bico, na informalidade.


Tem cerca de 13 milhões de desempregados.


A pobreza extrema avança.


Milhões tem no auxílio emergencial sua maior renda- ou única - no mês.


O Brasil de 2020 carrega sintomas brutos e crônicos de preconceito e desigualdade, agravados pela política diária de fomento ao ódio.


É necessário desatar esse quadro,sob pena de rumarmos para a desagregação e a barbárie social (um quadro de anomia que interessa a poucos).


Tarefa dura, mas necessária.


Começa nas relações humanas, que requerem solidariedade com quem está vulnerável.


Passa pelos municípios, onde tudo acontece e aflora, e onde a esteira de fundamentalismo e ódio precisa ser travada por governos locais comprometidos com a cidadania e desenvolvimento distribuidor de renda.


Já disse outras vezes - o bolsonarismo é um sintoma de uma sociedade adoecida.


Ele não é todo o problema - mas ele  agrava o quadro, porque enbrutece, desumaniza, desorganiza e seduz para o ódio destrutivo.


É isso que precisamos enfrentar.


Nos versos de uma canção...

" A vida não tá fácil, não

É muito prato prá pouco feijão

É muito ódio no coração...

Mas sei,

Que tudo pode ser melhor

A gente vai desatar o nó,

A gente vai voltar a sorrir"


À boa e inadiável luta.


Artigo Paulo Shultz


Comentários

  1. Muito triste, quando o povo perceber que é o servidor público que faz acontecer as políticas públicas, será tarde. Triste 😞 os do nosso amado Brasil.

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