Ele enxerga o mundo pelas lentes de uma câmera


Carlos Eduardo Vaz não vive propriamente da fotografia, ele tem antes, uma profissão que exerce há muitos anos com a representação da sua empresa de Microbiologia de Águas, uma área que não tem muito, ou nada a ver com a fotografia, na qual atua há aproximadamente sete anos.

A fotografia na sua vida nasceu como um hobby, por gostar das artes em geral, da própria fotografia, do cinema, do teatro, da música, sendo que também é músico e já tocou profissionalmente.

Como não é o seu sustento, Carlos destaca que a fotografia surgiu também como uma forma de se expressar no mundo. 

Sobre uma questão abordada por alguns profissionais da área, que fala de um possível fim da fotografia e ascensão da imagem, Carlos ressalta que a fotografia profissional não vai acabar não. Ele diz que é até meio paradoxal, e que os fotógrafos terão sim, que repensar a fotografia e pensar mais na imagem.

“Falo com colegas sobre essa parte da semiótica, da análise da fotografia, no sentido da memória imagética, a memória afetiva, política até e cultural, e de como isso influencia, como acrescenta e é fundamental pra que tua fotografia seja de fato interessante", elabora.

A fotografia como profissão, Carlos afirma que está mudando. Com várias coisas acontecendo muito rapidamente, ele se preocupa mais com a imagem, não sendo extremamente técnico, diz que é mais intuitivo e gosta de "fuçar", por isso, fala que a técnica tem que ser usada como ferramenta para uma expressão. "Se a técnica me restringe, ela não serve, assim como se a técnica é mais importante do que a visão; pra mim ela não interessa", enfatiza.

Por isso não acha que a fotografia vá acabar, e sim, vai exigir mais do profissional. Que vai ter que abrir o seu leque de conhecimentos em si e em geral. Ressalta que entende como fotógrafo profissional, todo aquele que recebe; que é remunerado pelo seu trabalho. 
Também enfatiza que a fotografia não findou como instrumento de impacto social, pelo contrário, impacta no sentido de causar reflexão, do fazer pensar, do senso crítico que ela provoca. 

Até do próprio registro, no caso, do que estamos vivendo atualmente – como isso vai ser interpretado daqui a alguns anos, de como a sociedade se comportou em uma pandemia, por exemplo. A imagem, o próprio registro das emoções, como isso vai ser analisado lá adiante. E lembra a infinidade de imagens que são produzidas nesse tempo em questão. 

Vaz também fala, assim como nas aulas em que ministra na Câmara Viajante, que lá ele coloca a importância de se pensar sobre fotografia, "como a gente faz, por que a gente faz - o que estamos querendo transmitir, e se as pessoas estão entendendo ou não aquilo que queremos passar". 

“Por isso, os fotógrafos, terão que pensar por esse foco da imagem, se vai trabalhar de forma profissional ela tem que estar inserida nesse mercado", ou seja, o diferencial que ela poderá fazer. Mesmo se está focada em books, retratos, quais os elementos diferenciais serão acrescentados àquela fotografia. Carlos não faz distinção do fotógrafo profissional do amador, no sentido da qualidade da fotografia. Um fotógrafo profissional pode ser ruim, e um dito amador, pode ser bom, ou vice versa.  

 "A fotografia é uma das coisas mais interessantes que eu conheço, por que ela se apropria e é apropriada por outras artes e por outras funções", como exemplo cita a arte de dentro dos museus, que começou a ser vista por todos, quando passou a ser fotografada.

"Tudo que existiu com relação a movimentos sociais, culturais, tudo isso é fotografado". Nisso Vaz destaca o exemplo que está acontecendo agora, com o movimento anti-rascista. "A fotografia está presente ali, juntamente com a mobigrafia e a própria filmagem com o aparelho celular.  

"É uma coisa muito estranha, por que apesar de todos os avanços tecnológicos, da evolução da mídia, a fotografia sendo uma arte bidimensional, ela continua tendo uma importância vital", afirma lembrando, que o celular, que é uma tecnologia muito mais simples teoricamente, mas que hoje as pessoas quase não falam pelo celular, elas não compram o celular pra ligar, elas compram uma câmera que acessa as redes sociais.

Vaz, conta que acabou direcionando sua fotografia para uma produção, para uma linguagem mais artística, sendo esta, daquilo que aprecia fotografar. Como de arquitetura, de ambientes, de paisagens, fotografia documental, de produtos...

“O que mais me encanta na fotografia, é que ela me permite fotografar todas as coisas que eu gosto, as coisas que são importantes pra mim", que além das já citadas, incluem a dança, o teatro, o balé, as festas populares, religiosas, vida selvagem, entre outras. Além de permitir ainda, fotografar aquelas coisas que não gosta, como a destruição do meio ambiente, degradação do patrimônio arquitetônico, questões de segregação e discriminação, por exemplo. Ou seja, a fotografia usada também como instrumento de denúncia daquilo que acredita que deve ser denunciado.

Carlos Eduardo Vaz, tem 54 anos e lembra que sua geração tinha uma ligação bem mais difícil com a fotografia, que era analógica e muito mais cara, tendo que fazer revelações, e a própria câmera fotográfica que era muito mais cara. 

Já no caso dos tempos atuais até faz uma reflexão de como nossa época será analisada daqui a vinte, trinta anos, ou menos, com esses bilhões de imagens que nós produzimos. “Por que as imagens de anos atrás eram uma tentativa de mostrar a realidade, os acontecimentos, enfim, não havia essa história de redes sociais, das selfies, do eu com as pessoas ao fundo, do eu com a paisagem ao fundo, eu, eu, eu", que certamente, como ele coloca, vai ser um registro de como a sociedade se comportava nesse período. Mas como um registro histórico, ele se questiona e analisa que não sabe como vai ser, por que serão bilhões de imagens, de fotografias.

O nosso fotógrafo, que contempla a matéria sobre fotografia dessa semana no Bloguinho, tem diversas participações coletivas e individuais, em exposições, em galerias, museus, como o Memorial do Rio Grande do Sul, nos Correios, na Assembléia Legislativa, no Café do Margs, ou seja, em praticamente todos os lugares de exposições na capital gaúcha. Tendo participado também como convidado para exposições em São Paulo.

Muito comunicativo, ao responder as perguntas da entrevista, Carlos foi além das expectativas desta humilde jornalista e agora blogueira, sendo que o tema, rendeu ainda para mais uma próxima matéria no Retratos da Alma.  Aguardem e apreciem a sua belíssima fotografia. 

E para finalizar, registro com a própria mensagem de Carlos – “agradeço o dia que comecei a enxergar o mundo através das lentes de uma câmera”.













Na sequência fotos tiradas com o celular - mobigrafia 













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