Fotógrafo Ninho Dutra conta como foi sua viagem a Patagônia
Uma conexão
de mundos e o sentimento de estar vivo
Conforme
anunciamos em matéria anterior no “Retratos de Vida”, chegou a vez de contar
como foi a intensa viagem do fotógrafo Ninho Dutra a Região da Patagônia, na
Argentina e no Chile, realizada recentemente. Uma trip que levou quase 22 dias a
bordo de um automóvel na companhia de mais dois amigos.
Desde já o que pudemos
captar, é que essa não foi simplesmente uma viagem como outra qualquer, significou
uma profunda conexão entre o mundo interior e a imensidão do mundo que nos
cerca. Ninho deixa isso transparecer quando fala do seu sentimento de “ESTAR
VIVO DE VERDADE, fora do sistema mundial”, como ele mesmo refere, nessa Selva
de Pedras, na correria do dia a dia em que estamos acostumados.
Nessa breve entrevista
ao Bloguinho de Retratos, Ninho nos conta como foi sua rica experiência que surgiu
para mostrar que, lugares não são apenas lugares, pessoas não são só pessoas e que
viagens não são sempre iguais... (aproveitei a dica dum post do fotógrafo, no
Instagram).
O fotógrafo
mostra em seus relatos os seus anseios, suas inquietações mais profundas de
conhecimento interior. Para isso ele parte de uma grande reflexão sobre tudo,
desde as comodidades da vida atual, que para ele, “mesmo após grandes evoluções
de nossa geração, da caverna aos vilarejos, das cidades às grandes metrópoles
futuristas, algo não se apagou. Essa chama é
a luz que Ninho talvez tenha ido buscar nessa interessante viagem.
Reflexões sobre
a finitude humana, a própria finitude em si é que perpassam as chamadas
inquietações do nosso entrevistado do Blog. Acho interessante destacar antes disso,
um pouco das suas elucubrações:
“Passei boa
parte da minha vida em uma silenciosa depressão ao olhar as estrelas, me
sentindo preso neste mundo.
La Patagonia |
Neste
silêncio imaginava as infinitas possibilidades em outros lugares, outros povos,
outros mundos... Cegamente deixei de ver, de sentir, de estar aqui, aqui neste
planeta.
E na
fotografia e em alguns livros encontrei Herman Melville, que usou uma frase
para viajantes em outras épocas e meridianos que, resume plenamente meu ser
aqui. Ele disse: “Eu sou atormentado por uma vontade insaciável de tudo que é
remoto, amo velejar por mares proibidos e desconhecidos”.
Talvez seja
um pouco tarde, talvez eu não viva tudo que busquei nas estrelas... Mas os
novos mundos e povos que estou vivendo aqui convidam silenciosamente a ir
além... Livre, não sei, mas no mundo cheio de outros mundos, sim”.
B.R.
– Se você fosse um sentimento hoje, qual seria esse sentimento, depois dessa
importante viagem a Patagônia?
N.D. – Depois
dessa viagem, o maior sentimento que eu vivo, é o de estar VIVO de verdade.
Fora do sistema mundial: pra trabalhar, ir pra academia, ora cuidar da
alimentação ora não cuidar da alimentação, cuidar com vírus, se deparar com a cara
amarrada do vizinho, com o cachorro do vizinho; você dá bom dia pra estranhos e
ninguém te responde. Enfim, tudo isso é um sistema repetitivo, que estando vivo
naquela solitude e rodeado pela natureza, ainda bem conservada e selvagem, me
trouxe a realidade de estar vivo, de estar aqui respirando o ar, apreciando o
sol, apreciando o frio...
B.R.
– Por que escolheu esse roteiro, esse lugar pra conhecer, qual o significado
dessa escolha pra ti?
N.D. – A
escolha de ir pra Região da Patagônia veio logo que eu iniciei na fotografia,
então com o passar dos anos, a Patagônia passou a se tornar um ponto de força,
de equilíbrio, no qual eu precisava estar lá para me encontrar, para me achar
como ser humano, como ser que vive nesse Planeta. E eu deixei um texto no
Instagram, resumindo minha ânsia que eu não conseguia explicar essa inquietude
de vários lugares que já andei no Brasil, e a Patagônia caiu como meu encontro,
sendo um dos maiores pontos de força que eu conheço o Monte Fitz Roy, Torres Del
Paine – Acredito não ter elemento maior na Terra, que faça você ter um
enfrentamento, sem desmerecer o trabalho de psicólogos e psiquiatras, mas a
parte natural de você poder se encontrar, se enfrentar, reconstruir... Eu elegi
a Patagônia como sendo esse ponto de força máxima.
B.R.
– O que você trouxe na “bagagem” além de fotografias e lembranças?
N.D. – Na
minha bagagem por essa sutil andança, eu consegui me enxergar, me ver como eu
sou, aqui no corre, corre do dia a dia, nessa nossa Selva de Pedras, eu tenho a
lida de me aceitar e de me inserir nesse mundo caótico e, ao poucos, com minha
fotografia, deixar aos olhos de quem quer ver a realidade do que é o nosso
Planeta, a nossa casa em si.
Se sairmos,
olharmos na janela, a gente vai ver prédios, casas, uma rua pavimentada,
buracos, postes cheios de luz, cachorros perdidos latindo, bichos abandonados,
pessoas passando, indo e vindo, mas ninguém se vê. Ninguém olha pra Natureza
pra ver como ela é rica e nos orienta diariamente. E eu quero trazer isso na
fotografia pras pessoas, sair um pouco dessa correria repetitiva e, talvez
deixar como migalhas no caminho, na fotografia, pras pessoas despertarem para o
real mundo que elas vivem dentro delas, e aproveitar o que tem fora.
B.R.
– O que te chamou mais atenção no caminho, nos lugares que passou, na própria Patagônia
em si?
N.D. – Em
cada cidade que eu chegava, no caminho, do ponto de partida, que foi a cidade
de Canoas, até o último ponto que foi a Serra de Bariloche, o que mais me
chamou a atenção na viagem foi o ESTAR PRESENTE em cada momento, em cada trecho,
em cada quilômetro, em cada parada, em cada ar que eu estava sentindo. Era o
fato de eu estar presente conectado, desconectado do resto do mundo, mas via
internet, e conectado comigo mesmo.
Eu percebi que
ao longo dos meus 44 anos, era a primeira vez que eu vivenciava estar presente
num lugar e VIVER ESTE LUGAR!
B.R.
– Como é o Ninho antes e o Ninho depois dessa viagem à Patagônia? Como está
sendo esse processo de transformação?
N.D. – Boa
parte desse processo, eu acredito que daqui a alguns anos que você vai ter a
resposta completa. Pois agora eu deixo as minhas fotografias, como reflexos de
como eu voltei. Aberto, extremamente aberto e disposto às mudanças que eu me
propus, tanto na ida, na estrada e no retorno. A LIBERDADE DE PODER SER EU foi
uma das barreiras que consegui começar a desconstruir atualmente, até mesmo na
própria fotografia, hoje tão desvalorizada. Mas ela mesma mostra realmente a
mudança como eu era antes – ansioso, deixando o presente com a cara no futuro,
e as coisas não andavam.
Agora estou
no período de adaptação, por que eu saí de um ambiente completamente puro, rico
e retornei com toda essa riqueza e pureza real, pra essa Selva de Pedras na
qual sofri uma sutil depressão, pra entrar nesse ritmo. Essa era a idéia inicial.
Mas eu pensei que se eu entrasse nesse ritmo novamente eu estaria seguindo os
mesmos passos de quarenta e poucos anos. E não é essa a idéia. A intenção é manter
aquela parte sincera da natureza, aquela conexão com a mesma, aqui, e tratar
isso com as pessoas que hoje precisam se ver como seres humanos, não apenas
como uma máquina de curtidas, ou atreladas a uma vasta possibilidade de ganhos.
E sim se ver como seres humanos, falhos que somos, buscando sempre, dentro das
nossas possibilidades, dos nossos limites, das nossas aceitações, buscando
melhorar. Não para o mundo, mas para nós mesmos. Por que o mundo já ta pronto
há muito tempo, apesar da gente estar f... com ele. Ele ainda está na ativa. E
eu vou passar dessa, quando for fazer minha passagem, com certeza o mundo vai
continuar aí mostrando pras pessoas. A próxima geração vai estar aí livre,
solta...
Só espero
que com a minha fotografia as pessoas consigam se conectar a essa real
liberdade de estar vivo nesse Planeta maravilhoso e VIVO!
Monte Fitz Roy |
Laguna Esmeralda |
Glaciar Perito Moreno, Argentina |
Puerto Natales, Patagonia, Chile |
Que bacana Ninjo.. tenho orgulho de ser seu Irmão e Amigo...
ResponderExcluirbrother brother brother
ExcluirAlem de um grande fotografo, um grande amigo, sensivel ao ver mundo interior e exterior, transmitido em seus clicks e a sua visao de mundo. Foi Uma viagem incrivel aprendizado da sua tecnica e seu pensamento relacionados. Desejo sucessos.abraços
ResponderExcluirGrato amigo aprendemos juntos
ExcluirMuito interessante a matéria, parabéns Rose, e com certeza que as palavras não conseguem expressar a experiencia ultra efêmera de estar neste cenário onde o planeta termina ou começa.. a finitude se mistura com a infinitude ... é o que somos ... as imagens são de um encantamento grandioso... a alma de tudo veio junto com as imagens .. uma louvação !! Parabéns Ninho Dutra
ResponderExcluirExtremamente GRATO
ExcluirGratidão é a palavra para descrever tudo que estou sentindo. Pelo reconhecimento do trabalho da gente e nesse caso, por aprender junto com a experiência desse fotógrafo magnífico e ser humano ímpar! Obrigada gente! Obrigada Ninho!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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