Nosso celular de cada dia e a necessidade de “conexão”

Seria o celular o nosso cigarro de hoje em dia?

Já dizia há alguns anos a socióloga, também chamada de cyberantropóloga, Amber Case, que o celular seria nosso cigarro de hoje em dia. Que daríamos uma olhadinha todas as vezes que nos sentíssemos tensos, ansiosos, entediados, ou algo assim. Eu mesma escrevendo esse texto perdi a conta de quantas vezes parei para verificar o celular.

Também por isso, sugiro uma reflexão diante desse hábito cada vez mais frequente no nosso dia a dia. Será por carência, solidão ou simplesmente um vício?

O fato é que estamos presos, reféns da tecnologia que somos. E o aparelho celular é seu produto mais representativo. Por isso de uma forma bem mais empirista e breve, busco analisar os porquês que nos levam a tal dependência dessa ferramenta tecnológica, mas para além disso, a necessidade que se faz presente de nos “reconectar” com nós mesmos. Já que parece impossível vivermos sem uma “conexão”.

De fato até pode ser para preencher algum "vazio encubado", uma lacuna vivida nos tempos modernos para dissolver nossas emoções. Tudo hoje parece fugaz, as relações interpessoais são cada vez mais fugazes e menos duradouras e substanciais. Vivemos a busca do prazer imediato, da satisfação. E o celular representa um meio que contribui para essa satisfação.

Para mudar esse ciclo, entendo que precisamos nos desapegar primeiramente de nós mesmos, desapegar do nosso egoísmo e partir para um novo rumo, descobrir novas fronteiras, voar sem correntes, “navegar em outros mares”... Nos “reconectar” conosco e com aquilo que está ao nosso redor. E não apenas com aquilo que nos cerca em nossas “bolhas virtuais”.

Usar as tecnologias de um modo mais tranquilo é o novo “upgrade” do momento. Sim, por que somos escravos dela até para o trabalho. Muitos de nós, trabalham 8 ou 10 horas por dia e quando chegamos em casa, não nos desligamos totalmente, pior, levamos o trabalho junto, no celular...

Não conseguimos perceber o quão libertador seria se tirássemos um tempo pra nós mesmos. Para refletir sobre a própria vida que seja – qual a razão de tudo isso, será reflexo do capitalismo/consumismo cada vez mais selvagem?

Adquirimos tanta coisa, que em pouco tempo vira descartável. Será que nós mesmos não estamos nos transformando em indivíduos descartáveis? Qual é nosso valor de mercado? Será que estamos nos colocando um preço? Seríamos nós, mercadorias de consumo?

Estamos nos tornando então, nossa própria marca nesse “universo branding”... Vivemos como se tivéssemos que vender a nossa imagem, assim como uma empresa. E nesse contexto temos que parecer que somos felizes, assim como postamos nossas vidas nas redes sociais – Para que alguém nos compre? Qual é nosso slogan, nosso símbolo? Temos um logotipo? Muitos irão pensar que de certa forma temos mesmo. Desde os tempos que "éramos um cartão de visitas".

Tipo, sou fitness – Viva como eu e seja feliz, ou – Eu me amo, vem me amar também. Não que a pessoa não tenha que se amar, auto- estima é ótimo, mas me refiro ao peso que é dado nesse sentido. Que se pensar bem, por trás de uma mensagem tão otimista, não se esconda mesmo que intrinsecamente, alguma falácia ou hipocrisia. O quanto de "fake" há nisso tudo para " vender" um estilo de vida? Que por fora o "produto" parece atraente, como uma bela embalagem, mas que por dentro, são outros 500. A nossa Brand Persona seria um embuste.

Persona, para a psicologia analítica de Carl Jung, (você pode procurar no Google) é "uma espécie de máscara projetada por um lado, para fazer uma impressão definitiva sobre os outros, e por outra, dissimular a verdadeira natureza do indivíduo", a face social que o indivíduo apresenta ao mundo.

Achei pertinente essa definição Junguiana e gosto de fazer um paradoxo do arquétipo persona, com o termo usado pelo meio cênico, onde inicialmente significava a máscara usada pelo ator no momento em que atuava na peça teatral. Por que indo mais a fundo no conceito de Jung, o arquétipo persona dá ao sujeito a possibilidade de criar um personagem que pode não ser de fato ele mesmo.

Nessa lógica, então, há uma imensidão de "personas" distribuídas nas redes sociais, onde a intenção do indivíduo é demonstrar para aquele meio, ou pra sociedade em que se insere, uma impressão favorável para ser aceito na mesma.

O assunto, enfim em torno desse conceito é muito vasto, quero me deter apenas até aqui. Precisamos nos despir dessa persona projetada para ser aceita. E aceitar a nossa própria natureza humana, despirmos para descobrirmos o obscuro que existe dentro de nós mesmos. Talvez assim, poderemos nos conectar com a natureza em volta, ou irmos atrás dessa natureza onde ela estiver.

Talvez assim, conseguiremos descobrir nossa verdadeira essência e emanarmos bons fluídos, boas energias como seres, como indivíduos parte de um todo. Seres harmonizados e equilibrados em consonância ao ambiente, ao ecossistema, ao universo de forma natural. E assim, o nosso celular de cada dia poderá ser usado de maneira mais saudável e equilibrada. Sem ser uma extensão do nosso corpo, como estamos usando, que seja um meio, e não um fim para justificar nosso vazio emocional.



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