Blog do Pote 2

 A era dos likes

Alguém já deve ter comentado sobre isso, certamente que sim, mas o tema é sempre atual, é o que acompanhamos no nosso dia a dia.

No universo virtual, parece que todo mundo quer ser visto e curtido. Os chamados "likes". Até "deslikes" tá valendo.
As pessoas não se contentam mais com o reconhecimento puro e simples do meio em que vivem e convivem, com pessoas de verdade. Querem tornar público tudo o que fazem. E esse "tornar público" significa expor sua vida pessoal e até profissional, para o além fronteiras...

 Mas por que precisamos tanto da empatia dos outros? Por que não mais nos contentamos em ser útil para própria família, em ser um bom pai, uma boa mãe, um trabalhador, empreendedor responsável; uma melhor amiga ou amigo que estão sempre dispostos a nos ouvir e nos acolher nos nossos mais profundos conflitos...

Não, não é mais assim. Faz um tempinho já.

 Nós agora estamos com outras prioridades. Temos "amigos virtuais" e pra eles nós contamos de tudo. Até o que omitimos pro nosso terapeuta, ou pro padre da paróquia, que seja, pro pastor da igreja...

No virtual, é muito mais fácil, e está ao alcance da mão, você debulhar tua vida para um completo desconhecido.

Eu sei que você vai dizer que isso já está meio batido, que Sigmund Bauman esmiuçou esse assunto até onde pôde...

Sim eu sei disso tudo, mas o que estou fazendo não é uma reflexão do todo, dos "outros"é a minha própria reflexão. O fato é que sabemos disso tudo, e não mudamos nadica de nada. Pelo contrário, estamos cada vez mais carentes. Cada vez mais egoístas e solitários.

 É a coisa mais fácil hoje em dia tu ir visitar uma velha amiga, e nem bem sentar pra falar do assunto que te trouxe ali, e num cacoete de mania, um quase TOC, pegar teu celular e clicar à toa no Facebook pra ver quantas curtidas teve a tua última postagem usando shortinho e da blusa que comprou recentemente, só por que é da moda... E você nem lembra mais o assunto que a trouxe ali, acaba conversando frivolidades que nem parece que está falando com uma grande amiga de infância. A gente não lembra nem de perguntar como anda a família da outra.

 É claro que sempre existem exceções, como em comunidades pequenas, luarejos onde as pessoas ainda se cumprimentam e se interessam realmente pela vida do outro. Isso está se tornando uma coisa rara.

E no entanto estamos cada vez mais sós. Cada vez mais ansiosos, deprimidos e depressivos, ou seja, em quase todas as famílias há pelo menos uma pessoa (não entendo de estatísticas, pode ser muito mais), responsável pelo enriquecimento da indústria farmacêutica.

 É a situação que se apresenta. Precisamos de "likes", precisamos de curtidas, de memes, figurinhas, minios, emojis, compartilhamento, grupos de chats, amigos virtuais, amores virtuais, sexo virtual, até trabalho virtual; espelhos virtuais...

Cada vez mais vivemos nessa "cegueira virtual", com a expectativa de algumas visualizações no blog, e isso ativa nossa serotonina, aumenta a adrenalina e preenche o  nosso vazio interior.

Precisamos falar mais sobre isso. Quem sabe nos comunicar mais com quem está próximo, deixar por alguns minutos de olhar o celular, perguntar se nosso filho tá precisando de alguma coisa, se nossa mãe baixou o colesterol e a pressão alta... Conviver mais. No sentido amplo de convívio. Desapegar. Viver, ler e sonhar.

Quem sabe assim não iniciamos o maravilhoso caminho do auto conhecimento, da serenidade, da sabedoria, e quiçá, da iluminação. Bora começar?

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