Psicografias de Morfeu



A moça agonizante do acidente

Eu estava com uma roupa muito confortável e ia passar voando (voando mesmo, tipo um mergulho no ar), até a próxima sala de aula dos fundos, para trocar as vestes por uma roupa mais bonita e igualmente confortável.

Estava muito feliz com isso, mesmo sabendo que era uma coisa boba. Usava dois vestidos lindos e super coloridos de verde, laranja, amarelo e azul. Com sandálias de dedo, da cor azul celeste. Só me faltava o batom. Saí desse jeito com os vestidos sobrepostos da loja, como se não pudessem me notar.

Eu era jornalista e tinha que noticiar sem demora, um acidente em que uma moça muito bonita, tinha sofrido, e que se encontrava sob os cuidados da mãe.

Saí do ambiente de trabalho, sendo que nessa ocasião eu já me transformara num a profissional da Saúde; a moça bonita estava morrendo e eu não queria ver a cena angustiante, agonizante dela. Antes disso, o meu colega imprimia sobre o referido acidente, o qual se passou numa RS, mas naquela hora, eu pensei que ele fosse policial e eu estava pegando o Boletim de Ocorrência. Era algo meio confuso, dadas as dimensões eu que eu me deparei atônita com o acidente e a agonia da moça – por isso ao mesmo tempo eu que eu era a jornalista, eu era também a enfermeira que cuidava da acidentada... E eu só queria mesmo era sair daquele ambiente trágico e passar meu batom, além de claro, ficar vestida de apenas um dos vestidos combinando com a rasteirinha azul celeste.

Lembro que não queria enxergar a moça passando muito mal daquele jeito, tinha muito medo de ver aquilo e não sair mais da minha cabeça, como um fantasma atemorizante. Então eu fechava os olhos e tapava os ouvidos. Por que na verdade aquilo me dava uma espécie de pânico. Queria sair dali e ir pra minha casa na “Esquina Salaete”. Fugir pra lá e pronto.

Só que eu estava muito longe, numa outra rodovia. Me distanciava cada vez mais, mesmo sabendo que tinha que voltar, Aquele ônibus em que eu me encontrava, sempre acabava voltando na direção do acidente.

Despertei muito assustada com aquilo tudo. E lembrava naquele instante que o vestido que eu usava era lindo demais, um estilo Brechó, godê, com bolsos na frente e cheio de detalhes e aplicações de flores vermelhas bordadas. Igualmente belo era o outro vestido que eu usava por baixo deste. Estava muito ansiosa para mostrar minhas roupas para minha mãe e com muito medo daquela guria agonizando, quase morrendo em cima de uma cama. Continuava a fechar os olhos e os ouvidos, mas parecia que alguém ali queria que eu realmente presenciasse aquilo tudo...

Texto de R. Bitencourt 


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