Psicografias de Morfeu


A festa de aniversário da menina manca

Eu estava numa festa surpresa de aniversário, num salão imenso de madeira fina. Todos os convidados levavam consigo uma baixela de vidro e deviam tomar cuidado em escondê-la.

A aniversariante ainda não tinha chegado ao local e os presentes tinham cada qual, que proferir umas palavras para ela.Cruzes! Até em sonhos a gente tem que pagar mico; ninguém merece. Também não podia deixar que a aniversariante descobrisse a surpresa antes da hora.

Num determinado momento, me desliguei de tudo aquilo, só conseguia me preocupar era com minha vida mesmo. Estava prestes a mudar para sempre o rumo das coisas e não estava preparada, por que, realmente não tinha noção exata de como seria essa mudança.

Pensava apenas na roupa que iria vestir na ocasião. O resto tudo escapava da minha mente. Como seria essa nova vida, que pessoas encontraria? Ao lado de quem estaria? Não sabia de nada.

E a aniversariante que não chegava nunca, os convidados estavam ansiosos e já com fome. Eu não, eu estava de olho no “champa” que estavam servindo. Peguei uma taça e o garçom me disse: É espumante de criança, pode tomar. E eu fiquei um tanto surpresa, como ele sabia que eu não podia tomar bebida de álcool?

Eu só sabia que tudo aquilo não passava de um sonho, mesmo assim não conseguia despertar. Estava esperando algum sinal, mas que sinal?

Estava chegando o momento: Música, maestro! Dizia o encarregado do evento. Um vulto pequenino se aproximava,  quem seria? Sim, eu não conhecia a aniversariante. Meu coração estava aos pulos. Falar o que?

Eis que surge ao centro uma linda menina, que era manca, ou estava mancando naquela hora. Mais perto pude notar que ela carregava um dos seus sapatos vermelhos, com o salto quebrado, na mão. Era por isso que mancava, a pobre menina.

Do nada eu sai voando pelo salão, com aquele mergulho no ar, como sempre. Eu colocava uma linda coroa na cabeça da infanta.Voltava pro meu lugar. 

Todos observamos sem nenhum espanto, a menina tirar a sua cabeça do pescoço e colocá-la sob a almofada na cadeira.

Imediatamente todos tiraram suas cabeças e depositaram nas suas baixelas. Começaram a proferir as palavras, em alemão. Não me pergunte como aquilo era possível. Eu pensava, - agora sim, piorou, teria que falar em alemão, mas como? Se tinha faltado tantas aulas.

O que era mesmo que eu tinha ensaiado pra dizer a ela; a desmemoria atrapalhava, inclusive na lembrança de um sonho tão curioso e literalmente sem cabeça.

Estava chegando minha vez, e eu estava aflita, queria sumir daquele lugar, mas não tinha forças mais para impulsionar um vôo.

O alarme soou, era um sino. Me lembro o primeiro instante em que acordei, eu me sentia muito aliviada por não ter que dizer as benditas palavras, para a menininha manca que era eu...

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